segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

CIÊNCIA NO BRASIL NÃO É FEITA POR CIENTISTAS



      Nos últimos anos, o Brasil vem acumulando bons resultados em rankings de produção científica.
No último ano levantamento feito pela consultoria Thomson Reuter, entre 2007 a 2011, o País correspondeu a 2,6% da produção científica global. No entanto, esses artigos, que ultrapassam a barreira de 25 mil publicações por ano, não são feitos por cientistas e sim por professores.
A avaliação foi feita pela neurocientista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzana Herculano-Houzel . Para ela, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil.
    "Não posso dize que neurologista é minha profissão, porque a minha profissão de cientista não existe no Brasil, Não está na tabela de profissões regulamentada pelo Ministério do Trabalho (MTE). Para pode atual como cientista, eu atuo como  professora de nível superior, eu literalmente faço ciência nas horas vagas", disse.
Para ela, o trabalho que os jovem exercem não é chamado de trabalho, e sim estudo. "É como se eles investissem na educação deles". Outros países já não cometem mais esse erro. O erro é não reconhecer este trabalho como qualquer outro". Lamentou. "É um esforço laboral que gera um produto científico. Por que o jovem cientista recém graduado precisa passar pela humilhação de continuar sendo estudante?".

Baixa Remuneração

      Suzana Herculano-Houzel contou que durante a graduação o jovem já faz ciência como aprendiz, ou seja, um estagiário durante a iniciação científica, ganhando uma bolsa que tem o valor menor que o salário mínimo muitas vezes. Para trabalhar com ciência, quando ele se forma tem que entrar para a pós-graduação. "Isso significa se sujeitar a uma bolsa de mestrado de R$ 1,5 mil reais mensais fixos pelos próximos dois anos sem qualquer direito trabalhista ou qualquer outro trabalho para complementar a renda". Observou.
       A professora criticou ainda a obrigatoriedade em assinar uma declaração de não vínculo empregatício do pesquisador com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e/ou com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). "É preciso passar por mais uma humilhação: o atestado de pobreza. Enquanto isso, seus colegas recém formados em engenharia e direito, por exemplo, já têm trabalho de verdade, ganhando de verdade".
            Para o jovem continuar trabalhando como cientista, ele precisa ingressar num programa de doutorado."É a única atividade de emprego se ele quiser atuar como cientista. A bolsa também tem valor mensal de 2,2 mil, sem nenhum vínculo empregatício e benefícios trabalhistas", comentou.
Sugestões.
        De acordo com Suzana, é possível fazer contratações por fundações e institutos de ciências ligados as universidades, que poderiam receber dos governos os valores que hoje são pagos como bolsa, com contrato  de trabalho e todos os  direitos empregatícios." Com a obrigatoriedade de contratação virá a possibilidade de salários com valores competitivos" descreveu.
           Para ela, dessa forma, a ciência caminha e a sociedade cresce. "É fundamental para a soberania de uma população que ela valorize  a produção de conhecimento científico. Isso começa por valorizar seus cientistas. Fazer ciência no Brasil, hoje, infelizmente, é uma péssima decisão profissional com pouquíssimas perspectivas.

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